2 de abr. de 2008

Terça-feira, १
NEGRO OU PRETO: COMO SE DECLARAR O AFRICANO NO BRASIL

Por Walter Passos. Teólogo, Historiador, Pan-africanista, Afrocentrista e Presidente do CNNC – Conselho Nacional de Negras e Negros Cristãos. Pseudônimo: Kefing Foluke.Com o avançar da luta contra a discriminação racial no Brasil, grupos se auto-declaram negros ou pretos. Alguns dizem: “preto é cor e negro é raça”. Ninguém diz que é da raça preta. Sabemos que há uma só raça, que é a humana, e ela foi criada por Deus no Jardim do Édem, segundo os criacionistas. Conforme os estudos históricos, hermenêuticos e exegéticos, os homens foram criados da cor da lama preta. Os evolucionistas acreditam que houve uma evolução do ser humano; e os fósseis mais antigos estão na África. Por conseguinte, toda a humanidade surgiu nesta terra abençoada, com bastante melanina, da cor preta.Os europeus, com as suas línguas, renomearam locais e civilizações. Como exemplo, temos a palavra Mesopotâmia, que na língua grega significa "entre rios" (meso - pótamos). Sabemos que a Grécia começou a formar-se provavelmente entre 2.000 a.C a 1800 a. C . As civilizações que estavam na Mesopotâmia já existiam há milhares de anos e chamavam essa região “terra dos étiopes”.Não podemos perder o foco da discussão. Essas colocações acima são apenas uma chamada à reflexão sobre a palavra negro e a palavra preto. E já vos deixo estas perguntas:Qual civilização européia denominou os habitantes da África de negro ou preto?Como devemos nos auto-declarar, sem um conhecimento da história, etnolingüística e da semântica?O que está por detrás da palavra negro?Qual é o seu verdadeiro significado?Como se auto-declaravam, nos documentos, os antigos egípcios?O que significa nigger e black na língua inglesa?Não sendo eu um etnolingüista, este texto é uma provocação para que as pretas e pretos lingüistas emitam opiniões e, assim, trabalhemos para a (des)construção da dominação lingüística que paira sobre o nosso povo. Sendo esse texto bem pessoal, o leitor observa a minha preferência pelo termo preto e não negro. Acredito que todo escrito traz implícita uma dose de parcialidade. Também é fato que todos os pan-africanistas que conheço se auto-declaram africanos no Brasil e pretos na diáspora.A palavra negro vem do latim niger e nigur, que se originou do grego necro, e significa “morte”. Você pode se lembrar de quantas palavras do radical grego necro temos na língua portuguesa? A palavra necromancia, que significa adivinhação através dos mortos, se aplica como “magia negra”. Sem falar de necrotério. Uau! Só coisa de morte. E aí começam os problemas. Foram os romanos quem usaram esta palavra, que em algumas línguas neolatinas se tornou: nègre – francês, negro – espanhol, negro – português, nero – italiano.A língua é usada para dominar, manipular, distorcer. A língua é uma das formas mais eficazes de o explorador racista dominar um povo, e a língua portuguesa é oriunda de nações escravizadoras: os gregos e os romanos.Na África, até a chegada dos europeus, não havia “negros” e “pretos”, mas africanos de múltiplas e variadas tradições culturais. Os africanos, de múltiplas cores, tornaram-se “negros” apenas em relação aos europeus dominadores. Assim escreveram Maestri e Carboni, em A Linguagem escravizada.É interessante notar que a antropologia européia cria o vocábulo negro para “estudar e classificar” as civilizações invadidas, especialmente da África. A antropologia é uma das mais poderosas armas do europeu para mistificar e manipular as civilizações invadidas e dominadas.Conforme os escritos do afrocentrista Cheik Anta Diop, os egípcios se consideravam povos da pele “preta como o carvão” e tinham apenas um termo para designar a si mesmos: kmt "os pretos" (literalmente). O adjetivo kmt significa rigorosamente "preto'', ou, pelo menos, “homens pretos”. O termo é um coletivo que descrevia, portanto, o conjunto do povo do Egito faraônico como um povo preto. E eles foram uma das mais antigas civilizações da África e do planeta.A nossa conversa está ficando muito longa e, como disse anteriormente, estamos começando a discussão.Ser negro ou ser preto? Ou ser africano na diáspora?Como você leitor (a) se declara?Esse espaço está aberto para que possamos denegrir as palavras com um empretecimento do nosso ser.
Postado por CNNC/BA

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