25 de out. de 2008


Nua e Crua
Raimundo Correia



Doire a Poesia a escura realidade

E a mim a encubra! Um visionário ardente

Quis vê-la nua um dia; e, ousadamente,

Do áureo manto despoja a divindade;



O estema da perpétua mocidade

Tira-lhe e as galas; e ei-la, de repente,

Inteiramente nua e inteiramente Crua,

como a Verdade! E era a Verdade!



Fita-a em seguida, e atônito recua...

— Ó Musa! exclama então, magoado e triste,

Traja de novo a louçainha tua!


Veste outra vez as roupas que despiste!

Que olhar se apraz em ver-te assim tão nua?

... À nudez da Verdade quem resiste?!

24 de out. de 2008

ESTRELA CADENTE

Traço de luz… lá vai! Lá vai! Morreu.
Do nosso amor me lembra a suavidade…
Da estrela não ficou nada no céu
Do nosso sonho em ti nem a saudade!

Pra onde iria a ’strela? Flor fugida
Ao ramalhete atado no infinito…
Que ilusão seguiria entontecida
A linda estrela de fulgir bendito?…


Aonde iria, aonde iria a flor?
(Talvez, quem sabe?… ai quem soubesse, amor!)
Se tu o vires minha bendita estrela
Alguma noite… Deves conhecê-lo!

Falo-te tanto nele!…Pois ao vê-lo
Dize-lhe assim: “Por que não pensas nela?”

Florbela Espanca - Trocando olhares - 29/07/1916