14 de ago. de 2011

Um pigmeu no zoo

OTA BENGA, UM PIGMEU NO ZÔO DE NOVA IORQUE.

Em 1888 o rei belga Leopoldo II, o dono do Congo, organizou na colônia um exército de mercenários chamado Force Publique. Constituíam um corpo de polícia, força anti-guerrilheira e exército de ocupação que já em 1900 atingia os 19 mil homens encarregados de conter tanto as numerosas sublevações étnicas, como de garantir o trabalho escravo de carregadores e coletores de borracha. Enforcamentos, torturas e mutilações eram os métodos de dissuasão que utilizavam em suas expedições de castigo.

Numa delas arrasaram um povoado, assassinando e desmembrando àqueles nativos em estado inferior de evolução. Entre os mortos estavam a mulher e os filhos de Ota Benga, um pigmeu que tinha ído caçar e regressava ao povoado para comunicar que tinha abatido um elefante. Capturado pelos assassinos de sua família, Ota Benga foi levado a um mercado de escravos.

Ali foi visto por um famoso explorador chamado Samuel Verner, que estava procurando pigmeus para exibi-los na Exposição Universal de Saint Louis, no estado do Missouri, de 1904. Verner agachou-se e inspecionou Ota, separando-lhe os lábios para examinar seus dentes. Gostou da mercadoria e trocou-o por um saco de roupa. Ota ainda ajudou Verner a convencer outros pigmeus para que lhes acompanhassem a Saint Louis.

Não era uma prática estranha. Vistos como curiosidade antropológica pelos primeiros exploradores europeus que visitaram a África, os pigmeus, homenzinhos que mediam no máximo 1,35 metros, sempre tiveram em suas características físicas uma senha de identidade ao mesmo tempo em que um passaporte para o escárnio.

Já em 1897, Leopoldo II tinha disposto que na Exposição Universal de Bruxelas fosse apresentada uma cenografia daquele Congo longínquo e pitoresco que lhe produzia tão notáveis benefícios. Fez trazer da África 267 homens, mulheres e crianças entre os quais dois pigmeus e organizou uma representação da vida Africana que atraiu a atenção de um milhão de visitantes.

Ante eles, os africanos dançavam diante de réplicas de choupanas de bambu com telhado de palha. Os visitantes lançavam-lhes comida, o que produziu indigestões entre os indígenas até o ponto de que o próprio rei Leopoldo ordenou colocar um cartaz que dizia: "Os negros só podem ser alimentados pelo comitê organizador". Quando chegava a noite eram recolhidos nos estábulos reais.

Selvagens Primitivos
Assim como os africanos de Leopoldo, quando Ota Benga chegou nos EUA foi exibido junto com seus colegas na seção de antropologia da Exposição, expostos embaixo de uma epígrafe de "selvagens primitivos". Sua presença e a dos demais pigmeus foi muito celebrada pelo numeroso público que se acercou para visitar a Exposição, 20 milhões de pessoas que deixaram 25 milhões de dólares em bilheteria.

Alguns antropólogos aproveitaram Ota e seus colegas como ratos de laboratório para seus estudos. Neste aspecto submeteram os pigmeus a diversos testes de inteligência que, com indissimulado racismo, serviram para proclamar que os negrinhos "se comportavam da mesma forma que pessoas mentalmente deficientes", cometendo muitos erros estúpidos e demorando muito tempo em executar as provas mais simples. Algo fácil de compreender se levar em conta que ainda 20 anos depois autores como Crookshank seguiam sustentando que o homem branco provia dos primatas mais inteligentes, os chimpanzés; os orientais, dos orangotangos, e os negros, dos fortes mas pouco inteligentes gorilas.

Acabada a Exposição, Verner cumpriu sua palavra e levou Ota e seus amigos de regresso a África. Ali, Ota Benga voltou a casar-se quase de imediato, mas sua segunda mulher morreu pela picada de uma cobra. Só, sem família, nem clã que lhe protegesse, e com o resto de pigmeus repudiando-o pelas más experiências passadas na terra do homem branco, Ota Benga voltou a se juntar com Samuel Verner, lhe acompanhando em sua volta a América.

De novo nos EUA, o explorador vendeu os animais capturados na África a diferentes zoológicos. Segundo explica Phillips Verner Bradford, neto de Verner e co-autor, com Harvey Blume, do livro Ota Benga: The Pigmy In The Zoo, o explorador entrou numa bancarrota, seu patrimônio foi embargado e a tutela de Ota Benga ficou nas mãos do Museu Americano de História Natural. Ota Benga acabou em Nova Iorque.

Dentes Afiados

William Hornaday, diretor do Bronx Zoological Garden da cidade, quis então tornar realidade uma velha aspiração: formar a hierarquização das raças numa espécie de representação que mostrasse a supremacia do homem branco sobre os selvagens africanos, a quem considerava análogos aos macacos. Com tal motivo, misturando um verniz pseudo-antropológico com uma populista representação circense, Ota Benga foi encerrado numa jaula compartilhando espaço com um orangotango.

Inicialmente, ele podia caminhar pelo zoológico e inclusive ajudava na alimentação dos animais. Mas quando foi colocado em exibição, Benga passou a fazer parte da "Casa dos Macacos", além disto carregava sua rede, seu arco e seta e inclusive os disparava como parte do bizarro show. No primeiro dia da exibição, 8 de setembro de 1906 os visitantes podiam ler a seguinte informação na frente da jaula: Pigmeu Africano "Ota Benga" 23 anos de idade. Altura: 4 pés e 11 polegadas. Peso: 103 libras. Trazido da foz do rio Kasai, Estado Livre do Congo, Centro Sul da África pelo Dr. Samuel Phillips Verner..
O Diretor do Zoológico do Bronx William Hornaday viu a exibição como um espetáculo valioso inclusive economicamente dado seu elevado número de visitantes, e foi auspiciada por Madison Grant um proeminente geneticista racista.
O público se amontoava ante seu habitáculo, ávido para contemplar àquele homenzinho, que mal media 1,35 metros. Muitos se admiravam com seus dentes afiados "para devorar carne humana", segundo era divulgado na imprensa. Explodindo esta lenda, os responsáveis do zoo encarregaram-se de semear de ossos o solo da jaula, o que excitava ainda mais a curiosidade das até 40.000 pessoas que iam vê-lo em alguns domingos.

Mas aquela situação não podia se prolongar e algumas instituições religiosas foram em sua ajuda. Uns dizem que por caridade; outros, que para evitar a difusão de teorias evolutivas.

No final de setembro de 1906, Ota Benga foi levado para o Orfanato e Asilo Howard Colored onde ficou até 1910 quando passou à tutela da poetisa Anne Spencer que mandou arrumar os seus dentes (tinham sido limados para dar-lhe forma pontiaguda) e deu-lhe roupas ao estilo americano.

Benga estudou e começou a trabalhar numa fábrica local de fumo. Apesar de sua pequena estatura, provia uma ajuda importante porque era capaz de trepar até as polias e tirar as folhas de fumo sem ter que usar cordas. Seus amigos começaram a chamá-lo de "Bingo".

Ota Benga, estava preso entre dois mundos, sem poder regressar a áfrica e visto principalmente como uma curiosidade nos Estados Unidos. Em 20 de março de 1916 à idade de 32 anos, arrancou as coroas que tinham implantado nos seus dentes, fez um ritual de uma dança tribal e disparou no próprio peito com uma pistola que tinha roubado. Em seu Atestado de óbito aparece como Ota Bingo.

Leia mais em: Ota Benga, um pigmeu no zôo de Nova Iorque - Metamorfose Digital http://www.mdig.com.br

26 de jun. de 2011

A TERCEIRA DIÁSPORA

A 'Terceira Diáspora': entrevista a Goli Guerreiro



Ilustração de valentina garcia a partir de peça de arte popular do Benin.
Ilustração de valentina garcia a partir de peça de arte popular do Benin.

Você explica terceira diáspora como “deslocamento de signos provocado pelo circuito de comunicação da diáspora negra”. Se essa diáspora é propiciada pela globalização eletrônica, por que ela se dá com mais força entre as cidades atlânticas?


 Eu não diria que terceira diáspora é uma explicação e sim uma idéia que tenta atualizar o sistema de trocas entre culturas que aconteceram desde sempre. Pra ler o mundo a gente faz recortes e se posiciona. Esta leitura trata da história moderna de povos negros no Ocidente. Claro que as trocas não se dão somente nesse universo, mas foi este mundo que eu quis comentar, sampleando informações produzidas por negros “mas não propriedade exclusiva deles”, como diz Paul Gilroy em um dos posts dedicados a intelectuais de várias partes do atlântico. As cidades concentram 50 % da população da terra, é normal que a produção cultural em lugares com tanto trânsito de pessoas seja mais intensa. Mas o que o circuito de comunicação potencializado pela web traz de mais interessante é exatamente a possibilidade de deslocar centros e periferias, tornando possível escrever um livro em que Salvador é o centro do mundo. Milton Santos ajuda bastante: “o centro do mundo está em todo lugar. O mundo é o que se vê de onde se está”.

Diante da globalização esse tráfego de signos vai além das fronteiras étnicas? Em outras palavras, é preciso identificar-se como negro para fazer parte dessa rede? (Pergunto isso porque da minha leitura do livro fiquei com uma leve impressão que as trocas só se dão entre negros. Como se não existissem brancos contribuindo para esse intercâmbio).


Adoro que o trabalho cause este impacto estético. É incrível que numa cidade tão negra soe estranho que quase só haja pretos em todas as páginas dos livros. É claro, você sabe bem, que não precisa ser negro pra fazer parte desse circuito de informação (senão eu mesma não estaria nele e há tantos não negros envolvidos…), mas o trabalho tem a intenção de colocar os negros em seu lugar, ou seja, em todas as partes, em todos os campos de criação artísticos, comportamentais e ideológicos desta e de outras cidades.
Alguns dos lugares que você cita, por questões políticas e econômicas, se encontram mais ou menos isolados desse câmbio de signos e informações? De que maneira esse tipo de lugar interessa para sua pesquisa que tem trocas e hibridizações como foco?
As desigualdades jamais evitaram a criação e circulação de práticas, conhecimentos e estratégias. Se pensarmos em tudo que os negros inventaram e reelaboraram durante o escravismo, dá pra ter uma noção dessa capacidade de driblar mazelas e moldar contextos culturais. Atualmente a internet, por mais limitada que seja, permite façanhas como a da cubana Yoani Sanchez, que entrevistou Barack Obama e postou em seu blog o cotidiano de Havana com filmes feitos em celular.

Você dividiu o livro em dois e dedica um deles inteiramente ao porto da Bahia. Isso se explica por conta do seu ponto de vista ser daqui, ou o papel de Salvador nessa rede atlântica é mesmo destacado?


Não pretendo insinuar que a produção cultural de Salvador seja mais proeminente se comparada a outras cidades atlânticas. Apenas sou soteropolitana e vivendo aqui tenho acesso ao que se produz em vários campos de criação. Conversando com as pessoas, pesquisando blogs, myspace, livros, documentários, foi possível cartografar esse repertorio estético, usando palavras dos próprios autores que falam de música, moda, cinema, literatura, design. O livro mapeia também os núcleos de ativismo político que tentam reverter o modelo racista que enfrentamos há séculos.

 Goli Guerreiro

Goli Guerreiro
O nascimento do samba-reggae ainda é o melhor exemplo local de como essa rede atlântica atua? Que outros exemplos você citaria?
Foi tentando entender como um estilo tão potente foi inventado aqui sob os nossos olhos, que a imagem do mundo atlântico se desenhou. A história desse mundo tem a ver com as diásporas negras. O ocidente moderno se ergueu através delas, primeiro via tráfico negreiro e depois pelas migrações, que redesenharam as cidades e suas ambiências culturais. Londres por exemplo recebeu mais de 500 mil caribenhos em três décadas, hoje faz o maior carnaval da Europa, e é um dos maiores produtores de reggae jamaicano!

Que congruências e incongruências o Porto da Bahia apresenta em relação ao resto do Atlântico Negro?


A pesquisa etnográfica, que sustenta o trabalho, pressupõe que as semelhanças estão postas e busca as diferenças que também saltam aos olhos. Em Uidá, no Benin, onde se encontra a Porta do Não Retorno, local de partida de milhões de africanos para as Américas, acontece anualmente o Festival de Vodum (religião que viajou para o Novo Mundo). Diferentemente do segredo que cerca os ritos sacrificiais no candomblé do Brasil, no Benin, a cerimônia é pública e as TVs locais exibem inclusive o sacrifício de animal de quatro patas. A celebração reúne centenas de sacerdotes e sacerdotisas que se deixam filmar e fotografar por curiosos de todos os lugares do mundo. Há muitas referências que apontam para dessemelhanças. Outro exemplo são as mesclas entre indianos e negros em Port of Spain (capital de Trinidad, no Caribe), ausentes no Brasil. A seleção de posts quer chamar a atenção também para aspectos pouco abordados, como as escritas africanas. Para além da oralidade há diversos alfabetos criados onde hoje estão países que chamamos de Nigéria, Gana, Camarões. Inclusive as capas dos livros trazem os alfabetos africanos nsibidi e adinkra.

Dakar. Foto de Arlete SoaresDakar. Foto de Arlete Soares

Por que você optou pelo formato de blog e não por organizar os livros de uma forma acadêmica tradicional? Quais as implicações deste formado no que diz respeito à pesquisa?


Estou falando de um momento atual, pós-internet, esta opção estética não é um adorno. Selar forma e conteúdo é fundamental para a comunicação. As imagens (e a forma como elas dialogam com os fragmentos) são chave para acessar o livro, além dos comentários, links, marcadores. Foi preciso pensar uma maneira de editar este repertório transcultural da terceira diáspora sem trair a ideia de fluxo, de deslocamento. E, ao mesmo tempo, organizando muitas referências: filmes, romances, blogs, ensaios, entrevistas, notas de campo, canções. O design, elaborado por Valentina Garcia, e a sofisticação editorial da Corrupio foram fundamentais para dar forma ao conteúdo sem amarras que os livros expõem.

Entrevista com Goli Guerreiro publicada pelo Jornal A Tarde, Salvador, 12/11/2010.

28 de abr. de 2011

“Deus nos livre de um Brasil evangélico”

O pastor herege


“Deus nos livre de um Brasil evangélico”, diz o religioso Ricardo Gondim, crítico dos movimentos neopentecostais. Por Gerson Freitas Jr. Foto: Olga Vlahou

“Deus nos livre de um Brasil evangélico.” Quem afirma é um pastor, o cearense Ricardo Gondim. Segundo ele, o movimento neopentecostal se expande com um projeto de poder e imposição de valores, mas em seu crescimento estão as raízes da própria decadência. Os evangélicos, diz Gondim, absorvem cada vez mais elementos do perfil religioso típico dos brasileiros, embora tendam a recrudescer em questões como o aborto e os direitos homossexuais.

Aos 57 anos, pastor há 34, Gondim é líder da Igreja Betesda e mestre em teologia pela Universidade Metodista. E tornou-se um dos mais populares críticos do mainstream evangélico, o que o transformou em alvo. “Sou o herege da vez”,  diz na entrevista a seguir.

CartaCapitalOs evangélicos tiveram papel importante nas últimas eleições. O Brasil está se tornando um país mais influenciável pelo discurso desse movimento?


Ricardo Gondim: Sim, mesmo porque, é notório o crescimento do número de evangélicos. Mas é importante fazer uma ponderação qualitativa. Quanto mais cresce, mais o movimento evangélico também se deixa influenciar. O rigor doutrinário e os valores típicos dos pequenos grupos se dispersam, e os evangélicos ficam mais próximos do perfil religioso típico do brasileiro.

CC: Como o senhor define esse perfil?


RG: Extremamente eclético e ecumênico. Pela primeira vez, temos evangélicos que pertencem também a comunidades católicas ou espíritas. Já se fala em um “evangelicalismo popular”, nos moldes do catolicismo popular, e em evangélicos não praticantes, o que não existia até pouco tempo atrás. O movimento cresce, mas perde força. E por isso tem de eleger alguns temas que lhe assegurem uma identidade. Nos Estados Unidos, a igreja se apega a três assuntos: aborto, homossexualidade e a influência islâmica no mundo. No Brasil, não é diferente. Existe um conservadorismo extremo nessas áreas, mas um relaxamento em outras. Há aberrações éticas enormes.

CC: O senhor escreveu um artigo intitulado “Deus nos Livre de um Brasil Evangélico”. Por que um pastor evangélico afirma isso?


RG: Porque esse projeto impõe não só a espiritualidade, mas toda a cultura, estética e cosmovisão do mundo evangélico, o que não é de nenhum modo desejável. Seria a talebanização do Brasil. Precisamos da diversidade cultural e religiosa. O movimento evangélico se expande com a proposta de ser a maioria, para poder cada vez mais definir o rumo das eleições e, quem sabe, escolher o presidente da República. Isso fica muito claro no projeto da Igreja Universal. O objetivo de ter o pastor no Congresso, nas instâncias de poder, é o de facilitar a expansão da igreja. E, nesse sentido, o movimento é maquiavélico. Se é para salvar o Brasil da perdição, os fins justificam os meios.

CC: O movimento americano é a grande inspiração para os evangélicos no Brasil?


RG: O movimento brasileiro é filho direto do fundamentalismo norte-americano. Os Estados Unidos exportam seu american way oflife de várias maneiras, e a igreja evangélica é uma das principais. As lideranças daqui leem basicamente os autores norte-americanos e neles buscam toda a sua espiritualidade, teologia e normatização comportamental. A igreja americana é pragmática, gerencial, o que é muito próprio daquela cultura. Funciona como uma agência prestadora de serviços religiosos, de cura, libertação, prosperidade financeira. Em um país como o Brasil, onde quase todos nascem católicos, a igreja evangélica precisa ser extremamente ágil, pragmática e oferecer resultados para se impor. É uma lógica individualista e antiética. Um ensino muito comum nas igrejas é a de que Deus abre portas de emprego para os fiéis. Eu ensino minha comunidade a se desvincular dessa linguagem. Nós nos revoltamos quando ouvimos que algum político abriu uma porta para o apadrinhado. Por que seria diferente com Deus?

CC: O senhor afirma que a igreja evangélica brasileira está em decadência, mas o movimento continua a crescer.


RG: Uma igreja que, para se sustentar, precisa de campanhas cada vez mais mirabolantes, um discurso cada vez mais histriônico e promessas cada vez mais absurdas está em decadência. Se para ter a sua adesão eu preciso apelar a valores cada vez mais primitivos e sensoriais e produzir o medo do mundo mágico, transcendental, então a minha mensagem está fragilizada.

CC: Pode-se dizer o mesmo do movimento norte-americano?


RG: Muitos dizem que sim, apesar dos números. Há um entusiasmo crescente dos mesmos, mas uma rejeição cada vez maior dos que estão de fora. Hoje, nos Estados Unidos, uma pessoa que não tenha sido criada no meio e que tenha um mínimo de senso crítico nunca vai se aproximar dessa igreja, associada ao Bush, à intolerância em todos os sentidos, ao Tea Party, à guerra.

CC: O senhor é a favor da união civil entre homossexuais?


RG: Sou a favor. O Brasil é um país laico. Minhas convicções de fé não podem influenciar, tampouco atropelar o direito de outros. Temos de respeitar as necessidades e aspirações que surgem a partir de outra realidade social. A comunidade gay aspira por relacionamentos juridicamente estáveis. A nação tem de considerar essa demanda. E a igreja deve entender que nem todas as relações homossensuais são promíscuas. Tenho minhas posições contra a promiscuidade, que considero ruim para as relações humanas, mas isso não tem uma relação estreita com a homossexualidade ou heterossexualidade.

CC: O senhor enfrenta muita oposição de seus pares?


RG:  Muita! Fui eleito o herege da vez. Entre outras coisas, porque advogo a tese de que a teologia de um Deus títere, controlador da história, não cabe mais. Pode ter cabido na era medieval, mas não hoje. O Deus em que creio não controla, mas ama. É incompatível a existência de um Deus controlador com a liberdade humana. Se Deus é bom e onipotente, e coisas ruins acontecem, então há algo errado com esse pressuposto. Minha resposta é que Deus não está no controle. A favela, o córrego poluído, a tragédia, a guerra, não têm nada a ver com Deus. Concordo muito com Simone Weil, uma judia convertida ao catolicismo durante a Segunda Guerra Mundial, quando diz que o mundo só é possível pela ausência de Deus. Vivemos como se Deus não existisse, porque só assim nos tornamos cidadãos responsáveis, nos humanizamos, lutamos pela vida, pelo bem. A visão de Deus como um pai todo-poderoso, que vai me proteger, poupar, socorrer e abrir portas é infantilizadora da vida.

CC: Mas os movimentos cristãos foram sempre na direção oposta.


RG: Não necessariamente. Para alguns autores, a decadência do protestantismo na Europa não é, verdadeiramente, uma decadência, mas o cumprimento de seus objetivos: igrejas vazias e cidadãos cada vez mais cidadãos, mais preocupados com a questão dos direitos humanos, do bom trato da vida e do meio ambiente.

Fonte Carta Capital

21 de abr. de 2011

SIMÃO - O NEGRO QUE CARREGOU A CRUZ DE CRISTO


SIMÃO CIRINEU


Os últimos cinco dias que Jesus Cristo passou vivo foram emocionantes, aconteceu a “Paixão de Cristo”, celebrada todos os anos pelos cristãos, um episódio trágico até hoje representado no mundo inteiro pelas comunidades cristãs. Neste texto vou levantar algumas questões que como negro cristão acredito ser interessante na Paixão de Cristo. Uma questão a qual considero muito relevante foi a participação de Simão Cireneu. Lendo os textos bíblicos dos três evangelhos (Mateus, Marcos e Lucas) que narram o episódio, quero fazer algumas reflexões que considero importante para nós negros Cristãos. Simão vinha do campo o soldado romano o ver e logo o obriga a carregar a cruz, ele resisti mais é forçado. Depois que ele aceita levar a cruz se torna um aliado de Cristo, no percurso Simão começa a sofrer também ao ver o sofrimento de Jesus, um Simão já envolvido com Cristo.

Analisando os textos bíblicos procuramos entender o significado de Deus ter escolhido um Negro para ajudar o seu Filho nas horas mais difícil da sua vida. O texto bíblico afirma que Simão Cireneu foi “Forçado” a carregar a cruz. Será que dentro as multidões que seguia a Jesus e até mesmo entre os seus discípulos não havia nenhum voluntário pronto a ajuda-lo. Jesus não tinha condições nenhuma de subir o monte calvário que tinha 900 metros e precisava de alguém para ajuda-lo. O Próprio Simão Pedro que Jesus chamou para segui-lo este também foi o primeiro a fugir da cruz, dizendo que nunca tinha visto Jesus, acompanhando todo o acontecimento de longe.

Simão Pedro foi o primeiro seguidor voluntário de Jesus antes da sua morte, e Simão o Cireneu foi o ultimo seguidor, involuntário, antes da sua morte. Obrigado a seguir a Cristo levando a sua cruz em nome de um ato diabólico a morte de um inocente.

Acredito que Deus tem algo a dizer com tudo isso. Voltando a nossa realidade de negros e negras, e pensando em nossos antepassados da diáspora também percebemos que eles foram involuntários, obrigados a seguir um Cristo em nome de um colonialismo e uma escravidão diabólica. Simão Cireneu na sua experiência e encontro involuntário com Cristo veio a se tornar juntamente com sua família de grande importância na Igreja Primitiva, a Bíblia menciona em vários textos.

Em Atos 13:1 ele reaparece como, Simeão Níger, Simão o negro, ele é um dos pastores da igreja, é o homem que impõe as mãos sobre Paulo para enviá-lo ao campo missionário. O homem que um dia carregou a cruz à força agora é um dos pastores da igreja, ele assumiu a cruz. Quando os escravos negros foram trazidos forçados para a América também foram obrigados a seguir a Cristo, eles também resistiram, mais logo perceberam que seguir a Jesus Cristo não eram aquilo que os seus opressores faziam, eles assumiram também a cruz, e descobriram um Cristo Salvador e Libertador e já não mais o seguia obrigado, mais como participante da sua morte e ressurreição.

O Cristo que outrora era usado para escraviza-lo agora era o Cristo da sua libertação da escravidão e racismo. Nos Estados Unidos e outros países da América isso aconteceu no período da escravidão, na África na colonização, e no Brasil ainda estamos passando por esse processo. Mais o que aconteceu com o ultimo discípulo de Cristo, Simão o Negro, também aconteceu com muitos dos nossos antepassados em África, na Diáspora na América e acontece ainda hoje conosco no Brasil.

A Paixão de Cristo, me fez refletir essas coisas, talvez por não conseguir ver o cristianismo como antes da conversão a minha negritude. Também cansado de ver a historia sendo contada sem a nossa participação e procurando olhar com olhos negros. Vivendo o processo que chamo de permanente conversão de um negro envolto ao um cristianismo branco, para um negro envolvido no Cristianismo de Jesus Cristo, de Salvação, Libertação e Negritude.

Por Hernani Francisco da Silva

9 de abr. de 2011

No futebol o negro não serve para pensar

Racismo no Futebol: Pesquisador da USP diz que negros não ocupam cargos de diretoria

No imaginário brasileiro, existe a ideia de que no meio futebolístico as relações raciais são leves e brandas, como se não houvesse discriminação por cor, e como se nos campos o negro tivesse um espaço ‘garantido’, ‘respeitado’. No entanto, uma série de histórias de vida e experiências contadas por jogadores, dirigentes, treinadores, árbitros, torcedores, jornalistas e intelectuais, seguidas das análises feitas pelo pesquisador Marcel Diego Tonini, revelam o caráter ainda racista dos bastidores do futebol, principalmente quando o que está em jogo é o comando de clubes e federações, ou seja, os cargos de chefia e liderança “além dos gramados”.

Percebendo que as pesquisas já realizadas a respeito do tema ‘negro no futebol brasileiro’ abordavam exclusivamente os jogadores, Tonini decidiu analisar outros profissionais desse universo. Assim, apresentou em seu trabalho um novo olhar sobre o tema, utilizando como ferramenta de estudo o registro das histórias orais da vida de pessoas que trabalham no campo e nos bastidores.

Os relatos demonstram como o racismo ainda é assunto ‘tabu’ no Brasil, evidenciando o histórico brasileiro de não discussão do tema, inclusive no meio futebolístico. “O ‘interior’ do futebol funciona na mesma direção da própria sociedade: uma ‘área rígida’ para as relações raciais, na qual ser negro ainda é empecilho para ascensão profissional”, salienta o pesquisador. “Nas 20 entrevistas, negros e brancos mediam palavras, como se o próprio ato de conversar sobre o tema significasse que eram racistas”, completa.

Segundo Tonini, o estudo das histórias narradas pelos próprios negros que vivenciaram situações de discriminação, com experiências dentro do jogo e relacionamentos nos bastidores, representa um caminho eficaz para o desenvolvimento da investigação sobre as relações raciais no Brasil.

As histórias de vida

Para realizar a pesquisa Além dos gramados: história oral de vida de negros no futebol brasileiro (1970-2010), Tonini entrevistou, entre outros, o ex-jogador Junior, do Flamengo; Jairo, que foi goleiro do Corinthians, e João Paulo Araújo, árbitro que atuou nas décadas de 1980 e 1990. Além deles, outras personalidades conversaram com Tonini, como Paulo César de Oliveira, árbitro, e os dirigentes do Juventude, do Grêmio e do Cruzeiro – times marcados por histórias polêmicas relacionadas à discriminação.

De acordo com o autor, a ideia do negro como jogador, e não como dirigente, ou técnico, já é algo comum e estabelecido no imaginário da sociedade. Essa concepção se confirmou por meio das entrevistas, que revelavam experiências de infância e dos dias atuais. Os relatos possibilitaram ao pesquisador entender como pensam os próprios sujeitos dos campos e bastidores quando o que está em pauta é o racismo no futebol.

“O intuito era acrescentar para a literatura dados qualitativos relevantes, referentes ao período de tempo compreendido entre os anos de 1970 e 2010; um recorte recente da nossa trajetória futebolística”, acrescenta.

Dirigentes brancos

Tonini pôde conlcuir que, mesmo no mundo do futebol, se mantém a mentalidade de que o negro não serve para pensar. Sendo incapaz de comandar, deve apenas obedecer. “Trata-se de uma herança do ideário escravocrata. Nesse contexto, podemos questionar, por exemplo, por que a maioria dos dirigentes é branca”, indaga o pesquisador.

“Geralmente, esses líderes vêm de famílias abastadas, já tendo sido sócios do clube. O fato de o branco ter mais oportunidades que o negro é uma questão relacionada à construção da história brasileira, marcada pela escravidão. A partir do momento que decidem que no futebol os dirigentes de clubes não são remunerados, consolida-se uma das várias maneiras de não deixar que o negro seja inserido nesses cargos de chefia. Até porque, nem aqueles jogadores negros que tiveram uma projeção conseguiram galgar a hierarquia do universo futebolístico”, explica Tonini.

Obstáculos da cor

Não conseguir apitar uma final de campeonato, por exemplo, foi um dos obstáculos enfrentados pelo entrevistado João Paulo Araújo. O ex-árbitro afirma não ter vivido essa experiência por causa da cor de sua pele. Andrade, ex-técnico do Flamengo, vencedor do Campeonato Brasileiro de 2009, não foi mais contratado por nenhum outro grande clube depois de ser demitido em 2010. Ele também é negro.

O relato de Junior, ex-jogador do Flamengo nas décadas de 1970, 1980 e 1990, que veio a ser treinador, abordou o caso da faixa estendida por torcedores em uma partida na Itália, onde estava escrito “Junior, negro sujo”. Tonini conta que o atleta veio de família rica do nordeste – uma exceção no contexto do futebol -, e que, provavelmente por conta disso, não se veja como negro, afirmando ainda não ter sofrido discriminação no Brasil.

Mas outros três relatos me chamaram atenção: os dos próprios dirigentes”, conta o pesquisador. “Quando perguntei sobre o caso de racismo que aconteceu em uma partida entre Grêmio e Cruzeiro, que inclusive teve repercussão na grande mídia, os dirigentes de ambos os clubes tentaram, de certa forma, minimizá-los, como se fossem meras casualidades, e não discriminação racial. Talvez, se dependesse deles, casos como esse não receberiam atenção”, aponta Tonini.

Fonte: www.usp.br

11 de mar. de 2011

Racismo na Bíblia Dake

30 Motivos para a Segregação das Raças na Biblia Dake

30 Motivos para a Segregação das Raças"

por Finis Dake

E de um só sangue fez toda a geração dos homens, para habitar sobre toda a face da terra, determinando os tempos já dantes ordenados, e os limites da sua habitação; (Atos 17:26 KJV)

1. Deus quer que todas as raças sejam como Ele as fez. Qualquer violação do propósito original de Deus demonstra insubordinação a Ele. (At 17.26, Rm 9.19-24);

2. Deus fez tudo para se reproduzir “segundo sua própria espécie” (Gn 1.11-12, 21-25, 6.20, 7.14). Espécie compreende tipo e cor ou Ele os teria mantido todos iguais, desde o princípio;

3. Deus originalmente determinou os limites das habitações das nações (At 17.26; Gn 10.5, 32; 11.8; Dt 32.8);

4. Miscigenação implica na mistura de raças, especialmente as raças preta e branca, ou aqueles de tipo ou cor proeminente. A Bíblia não apenas se opõe a isto como vai ainda mais longe. É contra o casamento entre os diferentes ramos do mesmo tronco, como os judeus que se casaram com outros descendentes de Abraão (Ed 9-10; Nm 9-13; Jr 50.37, Ez 30.5);

5. Abraão proibiu Eliezer de tomar uma esposa para Isaque entre os cananeus (Gn 24.1-4) Deus ficou tão satisfeito com isto que Ele o dirigiu a quem devia buscar (Gn 24.7, 12-27);

6. Isaque proibiu a Jacó de tomar mulher entre os cananeus (Gn 27.46-28.7);

7. Abraão enviou todos os seus filhos das concubinas, e até mesmo de sua segunda esposa, para longe de Isaque para que seus descendentes não se misturassem (Gn 25.1-6);

8. Esaú, desobedecendo a essa lei trouxe a ruptura final entre ele e seu pai após uma vida toda ele (Gn 25.28; 26.34-35, 27.46; 28.8-9);

9. Os dois ramos de Isaque permaneceram segregados para sempre (Gn 30; 46.8-26);

10. Ismael e os descendentes de Isaque permaneceram segregados para sempre (Gn 25.12-23; 1 Cr 1.29);

11. Os filhos de Jacó destruíram uma cidade inteira para manter a segregação (Gn 34);

12. Deus proibiu o casamento entre Israel e todas as outras nações (Êx 34.12-16; Dt 7.5-6);

13. Josué proibiu a mesma coisa sob pena de morte (Js 22.12-13);

14. Deus amaldiçoou os anjos por terem deixado seu “primeiro estado” e “sua própria habitação“ para se casarem com as filhas dos homens (Gn 6.1-4; 2 Pe 2.4; Jd 6-7);

15. A miscigenação fez com que Israel fosse amaldiçoado (Jz 3.6-7; Nm 25.1-8);

16. Este foi o pecado de Salomão (I Rs 12);

17. Este foi o pecado dos judeus voltando da Babilônia (Ed 9.1-10.2,10-18,44; 13.1-30);

18. Deus ordenou a Israel que vivesse segregado (Lv 20.24, Nm 23.9, 1 Rs 8.53);

19. Os judeus são reconhecidos como um povo separado em todas as épocas por causa da escolha e do comando de Deus. (Mt 10.6, Jo 1:11). Direitos Iguais no evangelho não nos dão o direito de quebrar esta lei eterna;

20. A segregação entre judeus e todas as outras nações permanecerá por toda a eternidade (Is 2.2-4; Ez 37; 47.13-48,55; Zc 14.16-21, Mt 19.28, Lc 1.32-33; Ap 7.1-8; 14.1-5);

21. Todas as nações continuarão segregadas umas das outras em suas próprias partes da Terra para sempre (At 17.26; Gn 10.5,32; 11.8-9; Dt 32.8; Dn 7.13-14; Zc 14; Ap 11.15, 21.24);

22. Certas pessoas em Israel não poderiam sequer adorar junto com outras pessoas (Dt 23.1-5; Ed 10.8; Nm 9.2 10.28; 13.3);

23. Mesmo no céu certos grupos não poderão adorar junto a outros (Ap 7.7-17; 14.1-5; 15.2-5);

24. A Segregação era tão severa no Antigo Testamento que um boi e um burro não poderiam trabalhar em conjunto (Dt 22.10);

25. A miscigenação causou desunião entre o povo de Deus (Nm 12);

26. Animais foram proibidos de se reproduzir com outras espécies (Lv19:19);

27. Semear sementes misturadas no mesmo campo era ilegal (Levítico 19:19);

28. Sementes diferentes foram proibidas de serem plantadas nas vinhas (Dt 22.9);

29. Vestir roupas de tecidos mistos foi proibido (Dt 22.11; Lv 19.19);

30. Cristãos e algumas outras pessoas devem ser segregados como as raças (Mt 18.15-17; 1 Co 5.9-13; 6.15; 2 Co 6.14-15, Ef 5.11, 2 Ts 3.6-16; 1 Tm 6.5, 2 Tm 3.5).”

Fonte Afrokut

LEIA TAMBÉM:

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Referências:

Série "Raça, religião e racismo" Dr. Frederick KC Price

Answering the Charge of Racism - A Position Paper From Dake Publishing http://www.dake.com/dake/position.html

A Bíblia de Referência Anotada Dake - Finis Jennings Dake

Ministério Dez Mandamentos (Site segregacionista norte-americano);

Cultos perigosos (a verdade sobre cultos perigosos e a Bíblia Dake).


20 de jan. de 2011

Esse é do Youtube abaixo está o link!

Faz muito tempo que eu não escrevo nada,

Acho que foi porque a TV ficou ligada
Me esqueci que devo achar uma saída
E usar palavras pra mudar a sua vida.

Quero fazer uma canção mais delicada,
Sem criticar, sem agredir, sem dar pancada,
Mas não consigo concordar com esse sistema
E quero abrir sua cabeça pro meu tema

Que fique claro, a juventude não tem culpa.
É o eletronic fundindo a sua cuca.
Eu também gosto de dançar o pancadão,
Mas é saudável te dar outra opção.

Os meus heróis estão calados nessa hora,
Pois já fizeram e escreveram a sua história.
Devagarinho vou achando meu espaço
Mas não me esqueço das riquezas do passado.

Eu quero "a benção" de Vinícius de Morais,
O Belchior cantando "como nossos pais",
E "se eu quiser falar com..." Gil sobre o Flamengo,
"O que será" que o nosso Chico tá escrevendo.

Aquelas "rosas" já "não falam" de Cartola
E do Cazuza "te pegando na escola".
To com saudades de Jobim com seu piano,
Do Fábio Jr. Com seus "20 e poucos anos".

Se o Renato teve seu "tempo perdido",
O Rei Roberto "outra vez" o mais querido.
A "agonia" do Oswaldo Montenegro
Ao ver que a porta já não tem mais nem segredos.

Ter tido a "sorte" de escutar o Taiguara
E "Madalena" de Ivan Lins, beleza rara.
Ver a "morena tropicana" do Alceu,
Marisa Monte me dizendo "beija eu"

O Zé Rodrigues em sua "casa no campo"
Levou Geraldo pra cantar no "dia branco".
No "chão de giz" do Zé Ramalho eu escrevi
Eu vi Lulu, Benjor, Tim Maia e Rita Lee.

Pedir ao Beto um novo "sol de primavera",
Ver o Toquinho retocando a "aquarela",
Ouvir o Milton "lá no clube da esquina"
Cantando ao lado da rainha Elis Regina.

Quero "sem lenço e documento" o Caetano
O Djavan mostrando a cor do oceano.
Vou "caminhando e cantando" com o Vandré
E a outra vida, Gonzaguinha, "o que é?"

http://www.youtube.com/watch?v=7oXis0HZPz0

Movimentos sociais e política - releituras contemporâneas

Breno BringelI; Maria Victória EspiñeiraII

IPesquisador do Departamento de Ciência Política III e do Grupo de Estudos Contemporâneos da América Latina da Universidade Complutense de Madri - Espanha. Facultad de Ciencias Políticas y Sociología. Campus de Somosaguas s/n - 28223. Pozuelo de Alarcón - Madri - Espanha. brenobringel@hotmail.com
IIDoutora em Ciência e Filosofia da Educação. Mestra em Ciências Socias. Professora Adjunta do Departamento de Ciência Política e da Pós-Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia. Rua Aristides Novis, 197. Cep: 40.210-909. Federação. Salvador - Bahia - Brasil. victoria@ufba.br


A pergunta "Tem a política algum sentido?", lançada por Hannah Arendt há mais de cinquenta anos, torna-se cada dia mais atual. Obviamente, a pergunta não é nova, mas, feita hoje, incorpora contornos que não tinha décadas atrás. Para teóricos políticos contemporâneos como Jacques Rancière, o tema obsessivo do "fim" e, entre eles, o "fim da política", está relacionado à subtração do político. Subtração que, segundo o autor francês, pode ser descrita de duas maneiras: por um lado, como uma redução do político à sua função consensual, pacificadora de nexo entre os indivíduos e a coletividade, ao descarregá-los do peso e dos símbolos da divisão social; por outro lado, como uma supressão dos símbolos da divisão política em beneficio da expansão e do dinamismo próprio da sociedade. Nesse sentido, a pacificação recíproca do social e do político é um velho assunto que a política provavelmente conheceu desde sempre como sua essência paradoxal. Segundo ele, talvez o "fim da política" não seja outra coisa que sua consumação, a consumação sempre jovem de sua velhice; é esse fim sempre jovem que a política associou sempre ao pensamento da fundação.

Na atualidade, a desafeição pela política já não é provocada tanto por uma atitude totalitária, mas pelo incremento das distâncias e pelo afiançamento de um "paradoxo democrático", que pode ser resumido na idéia de que o ideal democrático não tem rival, mas os regimes que o reivindicam suscitam fortes críticas e reticências. A política se associa, assim, à desconfiança, e emergem interpretações variadas sobre os efeitos do crescimento do individualismo, o declínio da vontade política e dos horizontes universalistas, o incremento do distanciamento entre elites e o povo, etc. Para Rosanvallon, em seu livro Contre-démocratie, o grande problema da "política na era da desconfiança" não é o da passividade ou da despolitização (entendida como um menor interesse pelos assuntos públicos e um declínio da atividade cidadã), mas o da "impolítica", ou seja, da falta de apreensão global dos problemas ligados à organização de um mundo comum. Para esse autor, o aumento da distância entre a "sociedade civil" e as instituições delinearia uma espécie de "contrapolítica", fundada sobre o controle, a oposição e a diminuição dos poderes que já não se buscam conquistar de forma prioritária. Em suma, uma política de caráter reativo, que não serviria para estruturar e sustentar uma proposta coletiva.

Porém esse caráter defensivo e o controle sob a política democrática não pode nublar o amplo leque do repertório político, seus variados atores e lugares de enunciação. É interessante notar que a distinção conceitual entre a política (relacionada, maiormente, ao âmbito estatal e institucional) e o político (a dimensão que vai além do estatal ou do institucional, sem necessariamente estar confinada a um determinado lugar) vem se consolidando, com diferentes matizes, na teoria política. Ao mesmo tempo, é uma distinção útil para se pensarem os espaços de atuação política dos movimentos sociais contemporâneos. Se, com essa distinção, pode-se dividir, em termos analíticos, o fenômeno político em dois momentos fundamentais (o da criação e o da reprodução de sentido), também é possível pensar a ação dos movimentos sociais nesse espelho, a partir de uma tensão contínua entre o instituinte e o instituído, o endógeno e o exógeno, o local e o global.

Desde a instituição acadêmica dos movimentos sociais como objeto de estudo na década de 1960, várias teorias e paradigmas vêm abordando o tema a partir de diferentes perspectivas. Das divisões e fraturas clássicas entre as diferentes abordagens, passamos a um período de maior imbricação, onde o diálogo disciplinar e de saberes torna-se um pré-requisito fundamental para a construção de análises mais complexas e acordes com a realidade. As "teorias clássicas" dos movimentos sociais, em sua maioria centradas no âmbito do Estado-nação, vêm sendo revisitadas devido a um pujante ativismo transnacional. Emergem novas lentes analíticas e (ou) se renovam velhas ferramentas.

Este dossiê da revista Caderno CRH pretende contribuir com algumas reflexões que fomentem uma revisão das ações coletivas e dos movimentos sociais como objeto de estudo na contemporaneidade. Aspira a "revisitar" algumas categorias e abordagens "clássicas" que foram praticamente abandonadas no debate brasileiro durante a década de 1990, e introduzir ferramentas analíticas renovadas. Sobressai, no conjunto dos artigos apresentados, uma preocupação por mapear os limites e possibilidades do debate sobre os movimentos sociais, os diferentes espaços de enunciação e contestação política, as diversas manifestações da ação coletiva contemporânea e a importância de uma nova agenda de pesquisa sobre os movimentos sociais. Nesses artigos, é notório o aparecimento transversal de várias palavras-chave, tais como: mobilização, demandas, redes, território, transnacionalização, democracia, esquerda, emancipação, Brasil, América Latina, entre outras.

Com esse pano de fundo, Benjamin Arditi abre o dossiê com uma reflexão teórica que tem como referência o pensamento do controvertido e sempre atual Carl Schmitt, autor que rompe com a identificação da política com o Estado. Porém Arditi não se limita a repetir os códigos e as fraturas mais trabalhadas pelos intérpretes do autor alemão, explorando campos de interpretação férteis para a teoria política, em constante diálogo com destacados autores contemporâneos. Em particular, destaca sua leitura de algumas tensões, como guerra e política, amigo e inimigo, a "política" e o "político", base para sua proposta de uma dupla inscrição do político.

Com uma panorâmica sobre as múltiplas possibilidades que albergam um "campo político" ampliado, o artigo de Maria Victoria Espiñeira e Helder Teixeira nos introduz no debate sobre os déficits da representação política no Brasil, através de dados estatísticos que se referem às casas legislativas do Brasil. Os autores reflexionam sobre como pode ser construído o homem educado, o que ultrapassa o autointeresse e pode influenciar e construir novos sentidos para a política e ser formador de movimentos sociais atuantes na esfera pública. Assim, vão se reportar aos trabalhos de John Dewey e os de Jürgen Habermas para a compreensão de como se pode formar o representado em cidadão ativo, participante das ações coletivas, reconhecendo que, através das práticas dialógicas na esfera pública, pode ocorrer um salto da esfera civil e política para mudanças na esfera econômica.

Os textos seguintes, sem deixar de lado a discussão sobre os sentidos da ação política (coletiva), se adentram com maior profundidade no debate sobre os movimentos sociais propriamente ditos. Inaugura-se essa sequência de textos com o trabalho de Carlos Gadea, que, além de fazer um breve balanço crítico sobre os caminhos (e descaminhos) do debate sobre os movimentos sociais durante as últimas décadas, propõe uma articulação entre esses atores e a trajetória da esquerda política na América Latina, em particular no Uruguai. O artigo de Gadea tem o mérito de introduzir uma variável histórica, a partir de uma base sociológica, para explicar tal relação, que habitualmente aparece descontextualizada em muitas análises contemporâneas sobre os movimentos sociais e os "governos de esquerda" atuais na América Latina.

O artigo de Maria da Glória Gohn também trata dos movimentos sociais na América Latina, porém tem como objetivo analisar o cenário do associativismo civil na região. Para isso, a autora traça um mapa da produção teórica atual sobre os movimentos sociais, apontando para as principais mudanças analíticas ocorridas, tomando como referência duas categorias básicas: redes e mobilização social. Desse modo, o texto de Gohn destaca a mudança de foco nas abordagens sobre os movimentos sociais, partindo da interpretação sobre as novas gramáticas dos "dicionários" atuais dos movimentos sociais, que priorizam, muitas vezes, de forma acrítica, categorias operacionais de intervenção na realidade social nos marcos de uma política de inclusão conservadora.

As redes de movimentos sociais na América Latina recebem um tratamento mais específico no artigo de Ilse Scherer-Warren. Com o objetivo de responder se essas redes apresentam pistas para políticas emancipatórias, a autora sublinha a novidade histórica de uma renovada diversidade constitutiva dessas redes para construir subjetividades coletivas que conformam sujeitos e estimulam projetos políticos alternativos com um variado alcance setorial e territorial. A tradução de demandas materiais em representações simWarren, uma condição fundamental para a reelaboração de discursos, identidades coletivas, imaginários, nos quais vão se definindo novos campos de conflito.

Com o objetivo de continuar dando respostas aos desafios contemporâneos das ações coletivas, o dossiê conta, finalmente, com a contribuição de Breno Bringel e Enara Echart, que pretendem ir além das análises hegemônicas sobre as relações entre os movimentos sociais e a democracia, problematizando algumas "fronteiras" que impedem uma análise multidimensional dessas relações: a fronteira da ciência (pela qual os autores oferecem algumas alternativas disciplinares, metodológicas e epistemológicas para se repensarem os movimentos sociais como objeto de estudo); a fronteira do Estado-nação (que estabelece as conexões entre diferentes escalas, do local ao global, que interferem nos processos de democratização a partir da espacialidade da política); a fronteira institucional (que pensa a política como o espaço da experiência e o universo instituinte das práticas democráticas, para além do instituído) e a fronteira do momento histórico (que questiona as "transições políticas" como referência fundamental para os estudos entre movimentos sociais e democracia). O artigo contribui, assim, para assinalar os limites de muitas análises contemporâneas sobre essa temática, abrindo pistas para abordagens renovadas.

Esperando que os textos possam contribuir para uma discussão sobre as novas perspectivas de debate sobre os movimentos sociais e a política, gostaríamos de agradecer a todos os colegas que aceitaram participar desta coletânea e à revista Caderno CRH - em particular à sua editora, Anete B. L. Ivo, e sua co-editora, Elsa Kraychete -, pela possibilidade de publicar este dossiê temático e de tornar visível parte dos resultados do Seminário Nacional Movimentos Sociais e os Novos Sentidos da Política, promovido em junho de 2008 pelo Programa de Pós Graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal da Bahia (UFBA), com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado da Bahia (FAPESB), e coordenado e organizado por nós.

(Recebido para publicação em outubro de 2008)
(Aceito em dezembro de 2008)

Breno Bringel - Pesquisador do Departamento de Ciência Política III e do Grupo de Estudos Contemporâneos da América Latina da Universidad Complutense de Madri (Espanha). Entre 2006 e 2008, durante o doutorado-sanduíche, atuou como Pesquisador-visitante na UNICAMP e no Programa de Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA. É membro do Grupo de Estudos sobre Movimentos Sociais, Democracia, Educação e Cidadania (GEMDEC-UNICAMP) e pesquisador da Fundação Centro de Estudios Políticos y Sociales (CEPS) da Espanha. É membro do Research Committee on Social Classes and Social Movements (RC-47) da Associação Internacional de Sociologia (ISA) e co-editor (responsável da América Latina) da New Cultural Frontiers, nova revista internacional da ISA. É autor de vários capítulos de livro e artigos em revistas nacionais e internacionais. No Caderno CRH, publicou recentemente (com Alfredo Falero) o artigo Redes transnacionais de movimentos sociais na América Latina e o desafio de uma nova construção socioterritorial (v. 21, n. 53).
Maria Victória Espiñeira - Professora Adjunta do Departamento de Ciência Política e da Pós-Graduação em Ciências Sociais da UFBA. É mestre em Ciências Sociais e doutora em Ciência e Filosofia da Educação. Tem pesquisado sobre os movimentos sociais e suas relações com os partidos políticos (com ênfase nos estudantes e nos bairros), os vereadores e a presença dos movimentos sociais nas suas agendas, a cultura política desses grupos políticos e a transição democrática no Brasil. Publicou O Partido A Igreja e o Estado nas Associações de Bairros pela EDUFBA (1997), o capítulo "Experiência da Ala Jovem do MDB da Bahia durante o Regime Militar (2003).

17 de jan. de 2011

mentiras e ilusões do futebol

TOSTÃO http://www1.folha.uol.com.br/fsp/esporte/fk1601201108.htm
Mentiras coletivas

Investidores, marqueteiros e cartolas fingem que contrataram o melhor jogador do mundo


O SER HUMANO, para sobreviver e construir a civilização, teve de reprimir, negar e sublimar seus instintos e vários desejos.
Para isso, pagou um preço, como mostrou Freud em um de seus melhores livros, "O Mal-Estar na Civilização". Hoje, o mal-estar é ainda maior.
O ser humano costuma também fingir e mentir por hábito, necessidade, compulsão ou sem-vergonhice. Todos os anos, governantes, principalmente os de países mais ricos, se fingem de anjos e se reúnem para discutir os gravíssimos problemas da fome, ambientais, de aumento da temperatura do planeta e outros. Nada fazem para valer.
Todos os anos, especialistas mostram as soluções técnicas para prevenir os gravíssimos problemas ocasionados pelas chuvas, e as autoridades sobrevoam as áreas das tragédias. Nada fazem para valer.
No futebol, dirigentes e investidores do Flamengo fingem que contrataram o melhor do mundo. Torcedores eufóricos e iludidos acham que agora o time ganha tudo. Marqueteiros promovem um produto que não mais existe. Parte da imprensa trata a contratação de Ronaldinho como se fosse a de Romário, quando ele deixou o Barcelona para o Flamengo com o título de melhor jogador do planeta.
Desde a Copa de 2006, Ronaldinho é um jogador de dois passes excepcionais e um ou outro drible espetacular, sem sair do lugar. Para os grandes times da Europa, é muito pouco. Desistiram dele.
Será suficiente para o Flamengo e para o futebol que se joga no Brasil? No Milan, quando o técnico era Leonardo, Ronaldinho ensaiou uma grande recuperação, mas logo a chama se apagou.
A dedicação, a disciplina, a renúncia a muitos prazeres e, principalmente, a consciência do mundo que o cerca, condições necessárias para um craque se manter em forma por um longo tempo, são incompatíveis com a vida de celebridade e de riqueza. Há exceções. Messi, Iniesta e Xavi, como disse Casagrande, no Arena Sportv, além de craques, são pessoas normais.
Ronaldinho parece uma mercadoria, um boneco guiado por controle remoto, que sorri e fala sempre a mesma coisa e com a mesma cara.
Ronaldinho não é Ronaldo. O torcedor do Corinthians, honrado em ter na equipe um dos maiores jogadores da história, aplaudiu Ronaldo, mesmo sem jogar ou jogando mal.
O flamenguista não vai fazer o mesmo. Quer títulos. Ronaldinho não tem o carisma e o prestígio de Ronaldo. Terá de ser excepcional.
Ronaldinho, acorde
!