27 de set. de 2008






Os quatro fabulosos que nasceram na semana mais fértil do futebol

Simon Kuper

Em 22 de setembro de 1976, um grande jogador de futebol nasceu no Rio. "Você sabe de onde veio o nome Ronaldo?" seu pai perguntou ao escritor Frans Oosterwijk anos depois. "Do médico que fechou as trompas da mãe após o nascimento dele. Há, há. Doutor Ronaldo, era o nome dele."

Este nascimento deu início à semana mais fértil da história do futebol. Quatro dias depois de Ronaldo, o pequeno Michael Ballack nasceu em Görlitz, na República Democrática Alemã (Alemanha Oriental), seguido por Francesco Totti, em Roma, em 27 de setembro, e o quarteto é completado quando Andriy Shevchenko nasceu na aldeia ucraniana de Dvirkivschyna, em 29 de setembro.

Provavelmente havia algo na água naquela estação. Em 1º de julho de 1976, Ruud van Nistelrooy e Patrick Kluivert nasceram na Holanda. Seja qual for o segredo, à medida que o quarteto completa 32 anos e se aproxima da linha de chegada, é uma chance de esboçar uma espécie de carreira do astro moderno do futebol.

O primeiro ponto a despontar é que a origem pouco importa. No futebol moderno, é irrelevante ter vindo de uma aldeia evacuada após o desastre de Chernobyl (Shevchenko), de uma família romana tão tradicional que sua mãe sempre passava o uniforme de futebol (Totti), ou de Dr Salvador-Allende-Strasse, 168, Karl-Marx-Stadt, Alemanha Oriental (Ballack).

Todos os quatro cresceram sonhando com a grandeza. Totti inicialmente queria ser frentista de posto de gasolina, Ronaldo queria ser cantor, Shevchenko lutava boxe e Ballack foi identificado pelo governo da Alemanha Oriental como um futuro patinador de velocidade. Apenas Ronaldo foi um adolescente prodígio: aos 17 anos, ele já estava sentado no banco de reservas da Seleção Brasileira na final da Copa do Mundo de 1994, segundo dizem tremendo de medo de ser chamado para entrar em campo. A primeira coisa que comprou com sua nova riqueza foi um aparelho ortodôntico. Seus dentes "de coelho" atormentaram sua juventude.

Os outros três chegaram depois. Nenhum esteve presente no Mundial Sub-20 de 1995. Nunca mais se teve notícia do destaque do torneio, o brasileiro Caio.

Ballack foi quem levou mais tempo para se tornar um astro. Aos 22 anos, ele ainda não jogava regularmente na Bundesliga alemã. Seu período mais longo no anonimato pode ser o motivo para ser o único no quarteto a não ter se casado com uma modelo ou artista. Em vez disso, ele conheceu uma garçonete bonita no Café Am Markt, em Kaiserslautern. Enquanto isso, Ronaldo alternava entre uma legião de loiras, conhecidas coletivamente como Ronaldinhas.

Esta é a primeira geração de jogadores de futebol globalizados. Apesar dos primeiros jogadores ex-soviéticos a se mudarem para o Ocidente terem fracassado, Shevchenko trocou o Dínamo de Kiev pelo Milan e se adaptou instantaneamente. Ele apenas se mudou de um país parcialmente capitalista com uma forte máfia, onde o homem comum não tinha nada, para um país parcialmente capitalista com uma forte máfia, onde o homem comum anda vestido em Armani. Ele se casou com uma modelo americana.

Todos os quatro deram nomes cosmopolitas para seus filhos. Shevchenko batizou um filho de Jordan, em homenagem a Michael Jordan; os meninos de Ballack são Louis, Emilio e Jordi; e o filho de Ronaldo se chama Ronald, porque o jogador e sua esposa na época gostavam de comer no McDonald's. Até mesmo Totti, o eterno romano, deu o nome de Chanel a sua filha.

Com vinte e tanto anos, estes jogadores viviam uma sucessão de grandes momentos - apesar de Ballack não ter conseguido grandes conquistas. O tempo no topo se move rápido demais para permitir muito tempo para saborear. Em Yokohama, em 2002, nem uma hora depois de Ronaldo ter marcado dois gols na conquista da Copa do Mundo, um jornalista brasileiro lhe disse: "Nós não estamos interessados no passado, só no futuro". Ronaldo desejava conquistar o ouro olímpico? E quanto à próxima Copa do Mundo?

"Agora eu não quero sentir qualquer pressão a respeito do futuro", Ronaldo respondeu ao seu modo sereno. "Eu só quero comemorar." Ele finalmente tinha aprendido uma habilidade essencial para a vida no topo: dizer não.

Todos esses jogadores desenvolveram uma forma de lidar com o estresse. Totti permaneceu para sempre no Roma, onde é amado mesmo quando não joga toda semana. Shevchenko acabou de voltar ao Milan, o melhor clube para paparicar jogadores. Ronaldo priorizou as Copas do Mundo, freqüentemente ficando meses fora do clube de futebol. E quando Ballack chegou ao topo, ele já era maduro o suficiente para lidar com a pressão.

Nós agora podemos traçar o pico de cada um deles. O de Ronaldo foi em 2002; o de Shevchenko foi em 2004, quando foi eleito jogador europeu do ano; o de Totti foi 2006, quando conquistou a Copa do Mundo; enquanto Ballack quase conquistou tudo neste ano. Isso mostra que quanto mais à frente se joga, mais dependente o jogador se torna da aceleração e mais cedo é o seu pico. Ballack, o único meio-campista real do quarteto, é aquele que mais dura.

A jornada termina prematuramente. Gradualmente, as lesões cobram seu preço cumulativo. Totti e Ballack estão tendo dificuldade para retomar a forma. Shevchenko espera marcar seu primeiro gol nesta temporada antes de seu aniversário. Ronaldo está se recuperando em uma praia do Rio de outra lesão terrível no joelho, mas ainda não consegue dizer adeus: "Eu sinto tamanha paixão pelo futebol que estou pronto a fazer qualquer sacrifício para voltar". Ele insinua jogar no Manchester City.

Mas ele foi recentemente fotografado pela revista "Veja" em um iate, barrigudo, fumando e bebendo cerveja. De uma forma ou de outra, é assim que termina.

Tradução: George El Khouri Andolfato

26 de set. de 2008

Manhã de sábado. Chovia fino, uma garoa fria e constante. Acordei cedo pensando na noite passada. "É desconcertante rever um grande amor", dizia a a canção que tocava no rádio. Ontem tive a oportunidade de reencontrar Joana. Telegraficamente trocamos olhares furtivos. Nada acrescentar. Pelo vidro turvo da janela as flores vermelhas da bonilha pareciam roxas. Defronte a arvore vazia de pardais num jardim silencioso e verde, vejo o vulto silencioso de Beth. Ainda que chovesse, lá estava lá varrendo folhas inexistentes com uma capa amarela. TOC. mania de limpeza incurável. Os olhos de Joana ainda ~mantém aquele brilho juvenil dos quinze anos. Sua pele de um branco gasto convidavam ao toque. Impossível. Cabelos pretos encaracolados e finos. Olhos negros e nariz aquilino. Sorriso de comercial de tv. Os seios já não possuem aquela antiga firmeza... Ah! ... não entendo porque estou escrevendo essas coisas...
Bem isso não é um diário... Sei lá ....