12 de jul. de 2007

Desencontros
Quando estive aqui pela primeira vez ela estava vestida de uma longo, muito azul e reluzente. Parecia mais alta devido ao salto. Os cabelos encaracolados estavam soltos. Eram negros e também brilhantes. De fato parecia mais jovem. Talvez a maquiagem a rejuvenecera naquela noite. Desta vez está em pé ante a grande janela de vidro que mostra o clarão luminoso da lua cheia sobre o fundo escuro dos morros que circundeiam Jequié.
Timidamente eclipsei-me numa roda de amigos que versavam sobre o novo time do Vitória e sua saga na segunda divisão do Brasileiro. Não conseguia encarar aqueles grandes olhos verdes dela sobre mim. Sabia que ela estava me olhando. Tentei disfarçar meu nervosismo participando do papo. Não conseguia esquecer que na última vez que nos encontramos ela estava tentando manter a pose de menina direita e bem comportada. No entanto após alguns goles numa taça qualquer ela estava dançando ao som de algum DJ gospel. Era um forma de dançar sensualmente encantadora. Com um olhar ela me convidava, naturalmente fiz que não entendi. Não dançaria com a noiva do Glauber, muito menos quando lá ele não estava. De plantão até às seis da manhã não pode vir. Depois não me acostumei ainda com danças e rebolados Gospel.
Sim a festa era de aniversário de uma garota dita Gospel. Um nome moderno para os antigos evangélicos. Afinal aqui na Bahia adquiriram certa coloração não puritana! Se é que me faço entender! Sei lá. Muita coisa aqui não parece o que é. A "Marcha Para Jesus" aqui virou o "Carnaval dos Crentes", Tem o São João Gospel, o Funk Gospel enfim existe até baiana de acarajé de Jesus. Na luta entre as forças estrangeiras do protestantismo e o sincretismo religioso baiano, a acomodação foi um forte abraço que uniu e modificou até as mais firmes crenças.
A música aumenta e na mesma proporção as vozes se alteiam. Parece que todos tem algo a dizer. O calor aumenta e me afasto em direção a janela tentando saborear o ar puro que emana das montanhas. Ela está sentada na varanda circurspecta, parece reflexiva.
Me aproximo cerimoniosamente e ela me diz que gosta de ver a lua brincando de esconde-esconde com as nuvens escuras de Julho. Fala como se fosse para ela mesma.
- Você sabe o que há atrás daquela montanha escura?! -Ela fala apontando para um morro alto que se ergue aos nossos olhos.
- Não, não sei! Você já foi lá?- pergunto.
- Sim,há uma outra montanha, responde rindo. Dizendo isso se levanta e vem em minha direção. - Não precisa ter medo de mim-continua- Não vou te fazer mal nenhum, vejo você sempre fugindo de mim como se eu fosse te agarrar a força. E ainda que assim fosse não te tiraria pedaço algum.
Tento me explicar porém não consigo, já ela está na minha frente me beijando apaixonadamente...
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