11 de mar. de 2007

O CHOFER
Todo dia de manhã cedo era o primeiro a chegar ao prédio da Prefeitura Municipal de Jequié. Naquele tempo ainda ficava no centro da cidade, ali próximo a praça dos Caixeiros Viajantes, quase em frente a casa de Tote Lomanto. Radiante em um uniforme azul marinho e um quepe também azul, lá estava ele todo feliz, se chamava João Cardoso mas, todo mundo lhe conhecia como Chofer. Durante alguns anos servira à família Lomanto como motorista particular, e agora fora escolhido pelo prefeito Lomanto Jùnior como motorista da prefeitura, melhor, do gabinete do prefeito, naquele ano de 1954. Tamanha alegria só fora superada pela notícia de que se trajaria de chofer e que seu uniforme fora encomendado na Rua Chile, em Salvador.
Desde então ele se transformara. Para quem ainda não o conhecia, sempre se apresentava como o Chofer do Prefeito. De pele escura, com uma pequena mais saliente barriga, e um sorriso branco e espontâneo, João Chofer era todo devoção ao Prefeito. De uma fidelidade canina e sincera, sem nenhuma intenção além de servir bem àquele que para ele era seu grande benfeitor.
Nesta manhã de Domingo, quando as chuvas de março caem sobre a Cidade Sol, sacodindo os galhos baixos da goiabeira e agitando os imponentes galhos da cinquentenária mangueira no meu quintal, sem vontade de levantar, fico rolando na cama. Lembro-me deste Chofer lendário de Jequié. Incrível que nós seres humanos. Com nossos defeitos e qualidades. Ambições e sonhos. Ás vezes nos esquecemos do fim principal da nossa vida. Como é fácil se perder nos caminhos da vida! Como é difícil acertar a rota. João Chofer na sua simplicidade encontrou um caminho, um objetivo: Servir ao prefeito. Se para ele aquilo o dignificava, como não será edificante servir a uma causa maior. Vejo aqueles que se dedicam a uma causa religiosa, não me refero aos fanáticos, mas aqueles que encontram paz numa religião, como nos falam dela seus olhos brilham e faíscam. Outros dedicam-se a uma certa filosofia política e vivem e morrem por essa causa. Enfim o mais importante da vida è ter uma razão, um rumo, um norte para se dirigir com os olhos cheios de esperança e certeza de uma vida melhor. Como diz uma certa canção de Roberto Carlos: "...é preciso saber viver". Jesus Cristo no evangelho segundo São Mateus nos conta a história de um certo homem que ao encontrar uma pedra de grande valor, vende tudo que tem para comprar aquela jóia. Fico a imaginar esse homem. De olhos esbugalhados, diante de um pedra preciosa. Para um leitor comum surge a seguinte questão: e agora o que vai fazer esse louco? Que vai comer? Que vai vestir? Na verdade de louco ele nada tem pois encontrou sua razão de viver!

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