6 de set. de 2010

o olhar feminino


O que há no olhar feminino?

Na luz refletida pelos olhos femininos pode-se ver todo um matiz de
vivacidades irreproduzíveis em qualquer outro material.
Os olhos dos pássaros que caçam têm olhos que focam na frente, como os dos
humanos, enquanto os pássaros que são caçados possuem olhos em ambos
os lados da cabeça, para cobrir um grande campo de visão. E porque os olhos
das mulheres,sem se diferenciar tanto dos homens, são tão capazes de nos
fazer sentir o que por qualquer outro meio não pode ser sentido?
Para os oftalmologistas todos os olhos são iguais, crêem que não passam de
um mosaico de cristalinos, vasos, globos, órbitas, córneas, íris, retinas...mas há
diferenças. Isto pode confirmar quem já foi encarado por AQUELA mulher. Não
qualquer uma, mas aquela que, dentre milhões, nos escolheu para encarar. Em
tal situação especial, os olhos delas parecem mais brilhantes, mais vivos,
enuviados de mistério e mais coloridos...não importa se são azuis, verdes,
negros ou castanhos. Não são comuns, são os dela.
O encanto do homem pelo olhar feminino, independente de qualquer
maquiagem, não surgiu há alguns séculos atrás. É bem provável que nossos

ancestrais homo-sapiens já percebessem o reflexo das fogueiras nos olhos de
suas companheiras nas escuras noites do início dos tempos. E eles devem têlas
amado da forma que sua evolução sentimental,a aquela altura permitia.
Tão comunicativos quanto o corpo ou os gestos e a fala, os olhos das mulheres
podem ser encarados como uma ameaça. Bem sabiam disso os guerreiros
talibãs do Afeganistão que não contentes em cobrir todo o corpo de suas
mulheres com a burka usavam também uma tela, como acessório, para cobrirlhes
os olhos.
O olhar feminino é um tema recorrente na música, nas artes plásticas e na
literatura. Exemplo disso é a música "Este seu olhar" de Tom Jobim, o olhar da
Monalisa (1503) de Da Vinci, o das prostitutas em “As donzelas de Avignon”
(Les demoiselles d'Avignon, 1907) de Picasso ou o olhar esculpido, frio e
soberbo da Vênus de Milo (c. 130 a. C.). Há dois casos célebres na literatura
que podem significar uma questão de influência: "Os sofrimentos do jovem
Werther (Die Leiden des jungen Werthers, 1774)" de Goethe e "Dom
Casmurro" (1899) de Machado de Assis.
Os sofrimentos do jovem Werther é considerado por muitos, o romance que
deu origem ao romantismo e levou a uma onda de suicídios por toda a Europa.
A paixão profunda, não correspondida e tempestuosa do personagem inspirou
muitos escritores da geração romântica do mundo inteiro, dentre eles, o nosso
Álvares de Azevedo. Mas seria bom nos perguntarmos: por que não, o realista
Machado de Assis? Tudo bem, ele era realista...mas o tempo de sua infância
era romântico. E foi nesse ambiente que ele foi educado.
No livro de Goethe, o jovem Werther escreve uma série de cartas para seu
amigo Wilhelm. Lá o jovem aristocrático se encanta com a paisagem idílica e
os habitantes do lugarejo de Wahlheim. Certo dia indo a um baile, ele em um
coche vai buscar a bela Charlotte S...(este artifício de não terminar nomes
também foi usado por Joaquim Manuel de Macedo) e passa o resto do livro em
delírios, idealizando a amada e se encantado pelos olhos de "Lotte". Chama a
atenção no livro o fato de Lotte ter olhos negros,porque Werther a eles se
refere constantemente em passagens como:
• "como me deleitava, durante a conversa, com aqueles olhos negros...como toda minha alma era atraída pelos lábios vívidos e pela
magnitude de seus pensamentos, não ouvia as palavras com as quais
ela se expressava...";
• "(...) Deus sabe com que deleite, via-me preso em seus braços e nos
seus olhos repletos da mais verdadeira expressão do mais puro e mais
sincero prazer(...)";

• "Ela apoiou nos cotovelos e seu olhar percorreria a paisagem; olhou
para o céu e para mim e vi os seus olhos cheios de lágrimas(...)";
E olhei novamente para seus olhos (...)";
• "Foi o mais magnífico nascer do sol. A floresta úmida e os campos
frescos! As nossas acompanhantes adormeceram. Ela perguntou se eu
não queria fazer o mesmo; poderia ficar despreocupado com ela.
Enquanto vir esses olhos abertos”, disse-lhe e fitei-a “não há perigo de
fechar os meus”.
E há outras referências mais sobre os olhos de Lotte por todo o livro. Para não
estragar a leitura de quem ainda não leu este excepcional romance da literatura
alemã, deve-se esclarecer apenas que Charlotte antes de conhecer Werther
era noiva de um "homem muito distinto" e candidato a um cargo importante que
estava em viagem de negócios.

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