25 de out. de 2008


Nua e Crua
Raimundo Correia



Doire a Poesia a escura realidade

E a mim a encubra! Um visionário ardente

Quis vê-la nua um dia; e, ousadamente,

Do áureo manto despoja a divindade;



O estema da perpétua mocidade

Tira-lhe e as galas; e ei-la, de repente,

Inteiramente nua e inteiramente Crua,

como a Verdade! E era a Verdade!



Fita-a em seguida, e atônito recua...

— Ó Musa! exclama então, magoado e triste,

Traja de novo a louçainha tua!


Veste outra vez as roupas que despiste!

Que olhar se apraz em ver-te assim tão nua?

... À nudez da Verdade quem resiste?!

Nenhum comentário: